Inocentes, não ignorantes: O quanto Adão e Eva sabiam?
A história de Adão e Eva é a primeira história da humanidade e, mesmo sendo uma das histórias mais conhecidas em todo o Cristianismo, há muitos equívocos que giram em torno dela, especialmente em relação a Eva.
Melinda (Mindy) Wheelwright Brown percebeu esses mal-entendidos e seu livro, “Eve and Adam” (Eva e Adão), é dedicado a ajudar os Santos dos Últimos Dias a entenderem Eva e sua decisão.
“Quero ajudar as pessoas a reconhecerem que a coragem fiel está no cerne da escolha muito corajosa de Eva de abrir a porta para a mortalidade para todos nós”, diz Melinda.
A seguinte transcrição é um pequeno trecho do podcast All In do LDS Living e foi editado para melhor entendimento.
A graça de um Salvador
Morgan Jones: O que há na história de Adão e Eva que tem um poder transformador se nos permitirmos internalizá-la?
Melinda Brown: Bem, acho que a forma como eu explicaria isso, de forma resumida, é que muitas vezes começamos pelo meio da história, digo, quando [Eva] come do fruto, e então seguimos em frente a partir daí. Os observamos saindo do jardim, e vemos como a vida deles foi depois e talvez como eles tiveram que trabalhar para reparar aquela situação, certo? Essa é basicamente a visão geral e mundana da história.
Somos muito abençoados com o evangelho restaurado de Jesus Cristo e a contínua e em curso restauração desse evangelho, para termos também a primeira metade da história. E acredito que, ao contrário das outras pessoas que veem isso como uma metáfora para todas as nossas vidas porque todos pecamos, eles pecaram e puderam se arrepender graças a um Salvador.
Agora, podemos começar pelo início da história e dizer que essa é uma visão maior. Esse é o plano. Essa é uma história sobre arbítrio. E para que o arbítrio seja realmente eficaz, precisaremos de um Salvador, precisaremos do parceiro gêmeo do arbítrio, que é o arrependimento, que Jesus Cristo torna possível.
E se sobrepusermos nossa história sobre essa primeira metade da história, veremos que cada um de nós tomou a mesma decisão nos conselhos no céu, que, na pré-mortalidade, cada um de nós teve que tomar a decisão:
Queremos confiar em nosso Irmão Mais Velho? Podemos confiar o suficiente em Jesus Cristo para nos aventurarmos nesse desconhecido? Mas acredito que provavelmente sabíamos que seria muito difícil…
E acho que realmente tivemos que confiar nesse ponto. Acredito que esse é o começo da história de confiar em nosso Salvador, que Ele poderia fazer tudo isso funcionar para o nosso bem.
E para mim, essa é a beleza dessa história que se aplica a todos nós. E é onde eu gostaria que nosso foco se desviasse um pouco mais do que apenas vê-la como uma história de pecado e arrependimento na mortalidade.
Gosto da primeira metade e acho que ela explica por que não é uma história sobre pecado, que a transgressão envolvida é muito diferente, não é um pecado comum de forma alguma. Foi uma transposição de um limiar feita por uma escolha por causa do belo presente do arbítrio.
Uma escolha simples?
Morgan Jones: Obrigado. Isso é muito útil. Outra afirmação que eu queria abordar no livro é a seguinte: você disse:
“Por milênios, o mundo tem ignorado a história de Adão e Eva como uma simples escolha entre o bem e o mal, com a conclusão óbvia de que Eva escolheu o mal. Mas, ao examinarmos mais de perto, podemos descobrir, e levar os outros a descobrirem, que a escolha foi, na verdade, entre certeza e incerteza, segurança e risco, medo e fé. A escolha mais notável de Eva tinha tudo a ver com estagnação versus progresso; foi uma decisão de confiar em Deus.”
E você já falou um pouco sobre essa ideia de confiança. Mas você pode explicar como aprendeu que a decisão dela foi confiar em Deus e o que isso pode significar para nós?
Melinda Brown: Acho que uma das partes complicadas dessa história é que ela foi simplificada demais, no sentido mais amplo, estou falando do sentido histórico. Ela se resumiu a uma história que pode ser contada em três frases, certo?
É muito direto e as pessoas a simplificam dessa forma. E nessa simplificação, acho que perdemos de vista a possibilidade de eles terem estado no jardim por éons (intervalo de tempo equivalente a 1 bilhão de anos). Não temos ideia de como era essa linha do tempo.
Temos uma ideia da ordem cronológica dos acontecimentos por causa de como a história é contada nas escrituras e por meio da revelação e dos profetas dos dias modernos, entre outras coisas.
Mas não sabemos se a escolha veio imediatamente após eles terem sido colocados no jardim, ou se foi muito tempo depois, após muitos ensinamentos, conversas e aprendizados com mensageiros angelicais, seus pais celestiais. Há muitas incógnitas, simplesmente não sabemos.
A escolha de Eva
E me senti muito confortada, pessoalmente, com algumas das palavras do Élder Holland. Elas realmente significaram muito para mim, pois ele descreve que [Eva e Adão] não estavam aprendendo coisas triviais enquanto estavam no jardim, eles estavam aprendendo o evangelho. E ele até usa a frase “em sua totalidade”.
Acredito que isso é algo que o resto do mundo nem considera, que ela sabia. Porque pensamos neles como estando em um estado inocente, mas há uma diferença entre ser inocente e ignorante, não é?
Eles tinham muito conhecimento intelectual, podemos pensar assim, mas não tinham experiência de vida, a mortalidade e o funcionamento de um corpo e um espírito juntos, o que também cria desafios únicos com os quais eles não estavam familiarizados.
Então, minha opinião pessoal, que me ajuda a encontrar paz com as questões que começamos a discutir, é que ela tinha uma compreensão muito clara do quadro geral antes de fazer essa escolha.
Acredito que a questão está nesses dois mandamentos que lhes foram dados, que muitas pessoas chamam de “mandamentos conflitantes”. E é aí que muitas pessoas se prendem a essa história.
E elas sentem que há uma grande injustiça nisso desde o início, porque como isso é justo que eles tenham recebido esses dois mandamentos mutuamente exclusivos?
Acredito que o significado por trás disso é tão reconhecível em nossas próprias vidas, porque constantemente somos apresentados a duas opções mutuamente exclusivas.
Inocentes, não ignorantes
Às vezes são duas ótimas escolhas entre as quais temos que decidir, às vezes são duas escolhas ruins entre as quais temos que decidir. Às vezes é apenas uma questão de algumas opções serem melhores do que outras de várias maneiras, e é preciso pesar todos os prós e contras e tomar essa decisão.
E para mim, a beleza de como eles foram apresentados com essas duas opções mutuamente exclusivas é que isso tornou a escolha 100% sobre o arbítrio deles e a escolha deles.
Eles tiveram que escolher uma ou outra, porque, por não escolherem, estavam fazendo uma escolha, sabe, ambas eram uma escolha. E eles precisavam saber que era a decisão deles, para que não fosse óbvio para eles, para que eles não pudessem olhar para trás depois e pensar:
“Bem, eu sabia o que nossos pais celestiais queriam que fizéssemos, e então fizemos isso mesmo que não estivéssemos confortáveis ainda.” Havia essa ambiguidade ali que eles precisavam decidir quando estavam prontos para seguir em frente.
E eu não acredito que eles estavam totalmente ignorantes ao seguir em frente. Acho que eles tinham uma ideia de como seria difícil, e que haveria um Salvador para ajudá-los, que tudo daria certo porque eles conheciam e confiavam em nosso Salvador, Jesus Cristo.
Sabemos que a Expiação Dele é infinita, é um sacrifício infinito que Ele fez por nós. Ele foi nosso Salvador desde o começo, assim como será nosso Salvador no final.
Fonte: LDS Living
Veja também: As lições que Eva e Adão aprenderam no Jardim do Éden antes de comerem do fruto
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