O que é a Pedra de Vidente?
Joseph Smith, o Profeta, traduziu, aos 23 anos, um registro antigo, que hoje conhecemos como “O Livro de Mórmon – Outro Testamento de Jesus Cristo”, pelo dom e poder de Deus.
O Profeta levou apenas (aproximadamente) sessenta dias para concluir sua tradução do “egípcio reformado” para o inglês: do começo de abril ao começo de junho de 1929. “É duvidoso” disse o Elder LeGrand Richards (1886-1983) maravilhando-se com o milagre da tradução, “que qualquer outro escritor tenha jamais escrito, mesmo um livro de ficção, de tal grandeza, em tão pouco tempo.” [1]
Joseph, que tinha pouquíssima instrução formal na época, certamente precisou de muito auxílio divino para completar a tarefa da tradução. De fato, anjos lhe apareceram e lhe instruíram [2], foi-lhe providenciado o Urim e Tumim [3] – e lhe concedido o poder do Espírito Santo.
A pedra de vidente é mais um dentre vários recursos utilizados pelo jovem Profeta em seu trabalho de tradução.
O Presidente Joseph Fielding Smith disse que o Urim e Tumim foi o instrumento principal da tradução do Livro de Mórmon. Ele também expressou que a Pedra do Vidente não foi utilizada – ou, se usada, era secundária. Ele disse:
“Parece pouco razoável supor que o Profeta usaria algo evidentemente inferior (ao Urim e Tumim) (…) Talvez tenha sido assim, mas é tão fácil divulgar-se uma história dessas, principalmente porque o Profeta possuiu a Pedra do Vidente, a qual pode ser utilizada para outros fins.” [4]
O tom cético do Presidente Joseph Fielding Smith quanto à Pedra de Vidente se explica pela imprecisão dos dados históricos disponíveis em sua época, o que fez surgir várias teorias, algumas até negando o milagre da tradução inspirada.
O Presidente Smith preferiu não dar crédito a essas especulações. Entretanto, devido ao imenso trabalho do Projeto Joseph Smith Papers [5], que vem resgatando textos e fatos da época do Profeta, novas descobertas estão sendo feitas, inclusive sobre a tradução do Livro de Mórmon e a pedra de vidente.
Um vidente
O que significava “vidente” para o jovem profeta e seus contemporâneos? Joseph foi criado em uma família que lia a Bíblia, a qual menciona videntes repetidamente.
Em 1 Samuel, por exemplo, o escritor explica: “Antigamente, em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia assim: Vinde, e vamos ao vidente; porque o que hoje se chama profeta, se chamava então vidente” (1 Samuel 9:9).
Crescendo em uma cultura americana e familiar imersa na Bíblia e em tradições anglo-europeias, Joseph e muitos de sua época acreditavam que pessoas dotadas podiam “ver” espiritualmente usando objetos como pedras de vidente. Joseph adotou essas práticas populares, usando pedras de vidente para encontrar objetos perdidos, uma habilidade que os habitantes locais de Palmyra e Manchester, Nova York, buscavam antes de ele se mudar para a Pensilvânia em 1827.
Para aqueles que não entendem como as pessoas do século 19 na região de Joseph viviam sua religião, as pedras de vidente podem ser estranhas, e os estudiosos há muito debatem esse período da vida dele.
Em parte, como resultado do Iluminismo ou Era da Razão, um período que enfatizou a ciência e o mundo sob a luz de questões espirituais, muitos na época de Joseph passaram a sentir que o uso de objetos físicos, como pedras ou varas, era supersticioso ou inadequado para propósitos religiosos.
Nos anos seguintes, enquanto Joseph contava sua notável história, ele enfatizava suas visões e outras experiências espirituais. Algumas pessoas que o conheciam, se concentraram em seu uso inicial das pedras de vidente em um esforço para destruir sua reputação em um mundo que rejeitava cada vez mais tais práticas.
Em seus esforços de proselitismo, Joseph e outros primeiros membros escolheram não focar na influência da cultura popular, já que muitos potenciais convertidos estavam experimentando uma transformação em como entendiam a religião na Era da Razão.
Contudo, em revelações que se tornaram canonizadas, Joseph continuou a ensinar que as pedras de vidente e outros dispositivos videntes, bem como a capacidade de trabalhar com eles, eram dons importantes e sagrados de Deus. [6]
A pedra de vidente
O jovem profeta obteve uma pedra de vidente, descrita como marrom escura, enquanto cavava um poço para Willard Chase por volta de 1822.
Essa descoberta ocorreu apenas dois anos após a Primeira Visão e um ano antes das primeiras visitas de Morôni. Joseph fez uso da pedra de vidente por cinco anos antes de obter os intérpretes nefitas de Morôni em 1827.
Hoje reconhece-se a utilização, ainda que por pouco tempo, da pedra de vidente durante a tradução do Livro de Mórmon. O Presidente Russell M. Nelson explicou:
“Joseph Smith colocava a pedra de vidente dentro de um chapéu, e colocava seu rosto dentro do chapéu, posicionando-o cuidadosamente ao redor de sua face para que a luz fosse excluída; e na escuridão a luz espiritual brilhava. Um pedaço de algo parecido com um pergaminho aparecia, e nele as inscrições. Um caractere de cada vez aparecia e abaixo a interpretação em Inglês. O irmão Joseph lia as partes em inglês para Oliver Cowdery, que era seu principal escriba, e após ser escrito e repetido para o irmão Joseph confirmar se estava correto, então desaparecia e outro caractere com a interpretação aparecia. Portanto, o Livro de Mórmon foi traduzido pelo dom e poder de Deus, e não pelo poder do homem.” [7]
Acredita-se que antes da perda das 116 páginas, Joseph utilizava principalmente o Urim e Tumim. Após a perda das páginas, e a retirada dos Intérpretes Nefitas como punição, Joseph prosseguiu a tradução utilizando a pedra de vidente e a técnica de bloqueio da luz através do chapéu. Depois, tendo sido perdoado, Joseph foi autorizado a utilizar novamente o Urim e Tumim.
Certa vez, Joseph Smith disse ao Élder Orson Pratt que a pedra de vidente não era essencial para receber revelação ou tradução. Elas haviam sido dadas a ele quando ainda inexperiente. À medida que Joseph Smith continuou a traduzir e se tornou mais familiarizado com as revelações ele não mais precisou da pedra de vidente. [8]
Martin Harris, uma das testemunhas especiais do Livro de Mórmon, disse que a pedra de vidente que Joseph possuía era de “cor de chocolate, em forma de ovo que o profeta encontrou ao escavar um poço junto com seu irmão Hyrum.”
Ele também disse que através desta pedra “Joseph era capaz de traduzir os caracteres gravados nas placas” [9]. O relato de Martin Harris confirma a foto apresentada pela Igreja.
O blog Interprete Nefita relata uma curiosa história sobre a pedra de vidente:
Curiosidade
Certa vez, Martin encontrou uma pedra muito parecida com a pedra de vidente utilizada por Joseph no lugar dos Intérpretes, e as substituiu sem o conhecimento do profeta. Quando a tradução prosseguiu, Joseph pausou por um longo tempo e exclamou, “Martin, qual é o problema? Tudo está escuro como o Egito!”
Martin então confessou que ele havia as substituído para “calar a boca dos tolos” que diziam que o Profeta memorizava sentenças e meramente as repetia.
Se Joseph Smith prosseguisse com a tradução sem notar que seu instrumento havia sido substituído, uma evidência de fraude seria exposta e críticos teriam um “prato cheio” de evidências para darem apoio a seus ataques. Tal exposição, no entanto, jamais aconteceu e o teste de Martin Harris fortaleceu ainda mais a eficiência do método utilizado por Joseph. [10]
Joseph Smith mostrou sua Pedra do Vidente publicamente pela primeira vez no dia 27 de dezembro de 1841. [11]. Após sua morte em 1844, a pedra de vidente de Joseph foi levada para Utah e Brigham Young a exibiu aos professores da Universidade de Deseret em 26 de fevereiro de 1856 [12]
Hoje, a pedra de vidente de Joseph está sob posse da Igreja, mas não há qualquer indicio que seja utilizada pelos líderes da Igreja como meio de se receber revelação. Hoje, a pedra de vidente é apenas um artefato histórico.
Notas
[1] RICHARDS, LeGrand; “Uma obra maravilhosa e um assombro”, pg. 66-67
[2] “Muita coisa deve ter acontecido durante os quatro anos de preparação de Joseph. Ele atravessou a adolescência quase sem ser influenciado pelos preceitos dos homens. Gozava do apoio emocional de sua família e assumiu as responsabilidades associadas ao casamento. Os anjos prepararam-no para traduzir um registro divinamente inspirado e ensinaram-lhe a necessidade da autodisciplina e da obediência. Certamente ele devia estar ansioso para iniciar a tradução do Livro de Mórmon.” (História da Igreja na Plenitude dos Tempos, pg. 44-45)
[3] O escriba Oliver Cowdery contou: “Esses foram dias inolvidáveis — ouvir o som de uma voz ditada pela inspiração do céu (…) Dia após dia continuei ininterruptamente a escrever o que lhe saía da boca, enquanto ele traduzia a história ou relato chamado ‘O Livro de Mórmon’ com Urim e Tumim” (Latter Day Saints’ Messenger and Advocate, out. 1834, p. 14, maiúsculas padronizadas; ver também Joseph Smith—História 1:71) O Urim e Tumim são “instrumentos preparados por Deus para ajudar o homem a obter revelação e a traduzir línguas. Na língua hebraica essas palavras significam “luzes e perfeições”. O Urim e Tumim consiste de duas pedras colocadas em aros de prata, as quais, às vezes, são usadas junto com um peitoral” (fonte: lds.org)
Outras referências
[4] Doutrinas de Salvação, Volume 3, pg. 228.
[5] josephsmithpapers.org
[6] Richard E. Turley Jr., “Joseph, The Seer”, Ensign, October 2015
[7] Russell M. Nelson, “A Treasured Testament,” Ensign, July 1993
[8] Richard E. Turley Jr., “Joseph, The Seer”, Ensign, October 2015
[9] CHC 1:129
[10] interpretenefita.com
[11] Brigham Young, Journal at Millenial Star, Vol.XXVI, pg.119
[12] Utah Historical Society Library – Vol. VI, pg.117-118
Posto original de Maisfé.org
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